Thursday, June 07, 2007

Teremos ainda Portugal
por muito tempo?


O título tem um tom provocatório, mas eu vou justificar. Não digo que esteja para breve o nosso fim de país independente e livre. Mas, pelo andar da carruagem, traduzido em factos e sintomas, a doença é grave e pode levar a uma morte evitável. Aliás, já por aí não falta gente a lamentar a restauração de 1640 e a dizer que é um erro teimarmos numa península ibérica dividida. De igual modo, falar-se de identidade nacional e de valores tradicionais faz rir intelectuais da última hora e políticos de ocasião. O espaço nacional parece tornar-se mais lugar de interesses, que de ideais e compromissos.Há notícias publicadas a que devemos prestar atenção. Por exemplo: um terço das empresas portuguesas já é pertença de estrangeiros; 60% dos casais do país têm apenas um filho; vão fechar mais cerca de mil escolas ou de mil e trezentas, como dizem outras fontes; nas provas de língua portuguesa dos alunos do básico, os erros de ortografia não contam; o ensino da história pouco interessa, porque o importante é olhar para a frente e não perder tempo com o passado; a natalidade continua a descer e, por este andar, depressa baterá no fundo; não há nem apoios nem estímulos do Estado para quem quer gerar novas vidas, mas não faltam para quem quiser matar vidas já geradas; a família consistente está de passagem e filhos e pais idosos já não são preocupação a ter em conta, porque mais interessa o sucesso profissional; normas e critérios para fazer novas leis têm de vir da Europa caduca, porque dela vem a luz; a emigração continua, porque a vida cá dentro para quem trabalha é cada vez mais difícil; os que estão fora negam-se a mandar divisas, por não acreditarem na segurança das mesmas; os investigadores mais jovens e de mérito reconhecido saem do país e não reentram, porque não vêem futuro aqui; a classe média vai desaparecer, dizem os técnicos da economia e da sociologia, uma vez que o inevitável é haver só ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres; os políticos ocupam-se e divertem-se com coisas de somenos; e já se diz, à boca cheia, que o tempo dos partidos passou, porque, devido às suas contradições, ninguém os toma a sério; a participação cívica do povo é cada vez mais reduzida e mais se manifesta em formas de protesto, porque os seus procuradores oficiais se arvoram, com frequência, em seus donos e donos do país e fazedores de verdades dúbias; programa-se um açaime dourado para os meios de comunicação social; isolam-se as pessoas corajosas e livres, entra-se numa linguagem duvidosa, surgem mais clubes de influência, antecipam-se medidas de satisfação e de benefício pessoal… Não é assim, porventura, que se acelera a morte do país, quer por asfixia consciente, quer por limitação de horizontes de vida?É verdade que muitos destes problemas e de outros existentes podem dispor de várias leituras a cruzar-se na sua apreciação e solução. Mais uma razão para não serem lidos e equacionados apenas por alguns iluminados, mas que se sujeitem ao diálogo das razões e dos sentimentos, porque tudo isto conta na sua apreciação e procura de resposta.
Há muitos cidadãos normais, famílias normais, jovens normais. Muita gente viva e não contaminada por este ambiente pouco favorável à esperança. Mas terão todos ainda força para resistir e contrariar um processo doentio, de que não se vê remédio nem controle?
Preocupa-me ver gente válida, mas desiludida, a cruzar os braços; povo simples a fechar a boca, quando se lhe dá por favor o que lhes pertence por justiça; jovens à deriva e alienados por interesses e emoções de momento, que lhes cortam as asas de um futuro desejável; o anedótico dos cafés e das tertúlias vazias, a sobrepor-se ao tempo da reflexão e da partilha, necessário e urgente, para salvar o essencial e romper caminhos novos indispensáveis. Se o difícil cede o lugar ao impossível e os braços caem, só ficam favorecidos aqueles a quem interessa um povo alienado ao qual basta pão e futebol…
Mas não é o compromisso de todos e a esperança activa que dão alma a um povo?
--D.Antonio Marcelino

7 comments:

Cátia said...

Minha querida,

Que grande verdade que nos contas.. É triste ler a realidade mas é ainda mais triste ve-la... É triste ver jovens de vinte e tal anos desiludidos, não saber o que o futuro lhes aguarda, desanimados com o país... pensar no estrangeiro como unica solução.. É dificil... mas os posso criticar...?! Mas enquanto lutarem não é mau.. o pior é mesmo ver a vida passar... baixar os braços de vez...

Bela chamada de atençao linda... Que possamos pensar positivo e lutar.

Um beijo

Cristina said...

Infelizmente pode ser verdade...

Vais comemorar o dia de Portugal aí em NJ?

Bom fim de semana,
beijinhu

Elsa Sequeira said...

Teresinha!!

Pois, as coisas não vão bem, e estão cada vez piores...nas que fazer?? Lutar, e ter esperança, nada mais podemos fazer...

Bewijinhos no teu coração lindooooo!

pe.cl said...

Teresa passei para deixar beijinhos no teu coração.

Era uma vez um Girassol said...

Querida Teresa, grande post com palavras sábias dum homem com visão...
Já tinha ouvido falar mas ainda não tinha lido. Vou arquivar porque vale a pena!
Entendes agora a minha tristeza?
Beijinhos

david santos said...

Olá, Teresa!
Adorei o teu ataque.
Bem, os que tu falas nunca se meteram em guerra com ninguém, pelo menos que eu saiba!
Quanto aos que tu defendes, a realidade é bem o contrário. Só agora no Iraque mataram mais de um milhão de inocentes.
Já para não te falar no Vietname e em muitos outros locais.
Ou será mentira que aqueles que defendes, e que respeito, pois é a tua opinião, não andam sempre a inventar armas de guerra?
Quem são os maiores criminosos do Mundo?
Serão os vietnamitas?
Serão os iraquianos?
Ou será o maior terrorista do mundo, Bush?
Se é o que eu vejo, pois as coisas são fáceis de ver, o maior terrorista do mundo é Bush.
Ou conheces outro?
Eu não conheço.
Abraços e aparece sempre. Não somos nos que fazemos a guerra. Por isso, as nossas opiniões não matam.
Mas Bush, mata. É assassino.
Parabéns.

david santos said...

Ah, desculpa. Podes limpar o comentário. Eu apenas vim cá para te cumprimentar. A resposta fica lá na Voz do Povo.